A eficiência ineficiente

A promessa de tratamentos cada vez mais eficientes na medicina é algo tão sedutor que acaba respingando para a psicologia. Entretanto, esta filosofia não se traduz de maneira direta.

1/30/20252 min read

Tempo é dinheiro. Esse princípio se infiltrou em cada recanto do pensamento econômico moderno, criando uma cultura obcecada em extrair até a última gota de produtividade. O objetivo? Garantir que nada—absolutamente nada—seja desperdiçado, a menos, é claro, que esse desperdício sirva a algum propósito estratégico.

O ideal um bilionário onde tudo funciona a todo vapor, sem interrupções permitidas. É o sonho da eficiência implacável—a vida como uma máquina perfeita, operando no máximo, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Da sala de reuniões ao terminal do aeroporto, qualquer falha no sistema parece uma traição ao progresso. O tempo "perdido" se torna intolerável porque ameaça o próprio poder de sonhar.

Um exemplo gritante dessa obsessão surge nas férias quando no check-in o quarto não está pronto. Em um instante, o viajante animado se transforma em alguém completamente diferente. A raiva surge de maneiras nunca antes vistas. As preciosas 72 horas de férias são repentinamente reduzidas para 68. A fúria parece justificada—afinal, essa viagem exigiu esforço, planejamento e dinheiro. Mas por trás da raiva há algo mais profundo: uma visão de mundo onde cada atividade deve valer a pena. A vida se torna uma série de transações. Descanso, criatividade e conexão humana são avaliados pelo seu retorno sobre o investimento. Será que maximizei esse evento para fazer networking? Esse fim de semana valeu o custo? Esse tempo ocioso é produtivo o suficiente?

Não é de surpreender que quando a vida opera como um livro-caixa, cada cancelamento ou ineficiência pareça um roubo. Mas, ironicamente, a obsessão em maximizar o tempo muitas vezes sai pela culatra. Ao tentar extrair valor de cada momento, nos tornamos prisioneiros da própria obsessão. Nada parece ser saboreado—nem mesmo a jornada—porque estamos muito ocupados medindo-a. O que deveria ser tempo para perseguir paixões, nutrir relacionamentos ou simplesmente ser se torna uma lista interminável de tarefas.

Sob a sombra dessa economia, até a espontaneidade parece um luxo que poucos podem pagar. Mas quando a vida é reduzida a uma planilha, onde cada minuto deve render um saldo positivo, corremos o risco de esquecer o que tornou esses momentos valiosos em primeiro lugar. A riqueza da vida muitas vezes reside no imensurável: na risada inesperada, no passeio sem rumo, na centelha criativa que surge apenas na quietude. Esses momentos são preciosos não porque contribuem para um "saldo final", mas porque existem—independentes, vívidos e completos.

Eis o paradoxo: a coragem de desperdiçar tempo muitas vezes é a chave para recuperá-lo. O tempo gasto descansando, refletindo ou melhorando a saúde—física ou mental—não desaparece. Ele volta. Com juros. A única maneira de verdadeiramente "otimizar" a vida pode ser justamente parar de perseguir a eficiência implacável e permitir que algumas belas e propositais ineficiências se enraízem.

Porque, no final das contas, a vida não é uma máquina a ser aperfeiçoada. É algo mais bagunçado, mais selvagem—algo que deve ser vivido.